A procura de um amor literário



Mais uma manhã típica na escola. Exceto pelo fato de que hoje é sexta-feira. Finalmente vou poder acordar mais tarde e ficar o dia inteiro em casa, assistindo os meus episódios favoritos de Big Bang Theory.
 No intervalo do almoço, eu torcia para que não houvesse ninguém na arquibancada da quadra. Desde que me mudei, gosto de ficar ali, no ultimo degrau da arquibancada, olhando o céu e simplesmente comendo o meu almoço. Algumas pessoas, até se perguntariam o porquê de eu querer ficar sozinha. Sei lá. Sempre gostei disso. Às vezes, Caroline também não me suportava. Éramos vizinhas e estudávamos juntas desde a 3ª série. Jurávamos amizade para sempre, desde criança, e Carol me fazia prometer isso também. Ela era muito sentimental. Agora, infelizmente, nossa amizade infinita, teve de ser separada. Imagino no dia em que tive que vir, ela chorando em frente minha casa, tentando sorrir e acenar. Carol era a única e melhor amiga do mundo, claro, depois de minha mãe.

Após o almoço, tivemos mais quatro aulas: duas de biologia, uma de química e outra de história. As aulas de histórias eram as mais legais. O professor ficava cofiando o bigode de cinco em cinco minutos, enquanto explicava as histórias do Brasil e do mundo. Aquilo era engraçado para todo mundo. Ríamos a beça com ele cofiando o bigode preto.
A aula, sexta-feira, terminava mais cedo do que o normal, então com certeza, mamãe não estaria me esperando lá fora. Então, era o dia em que eu realmente amava, não por ser sexta, mas por poder passar na biblioteca da cidade.
Eu simplesmente a-ma-va aquele cheiro de livros velhos. Era a única parte da cidade que eu realmente gostava de ir. A bibliotecária uma moça de uns 30 anos chamada Raquel, sempre me recomendava livros que eu iria amar. E realmente, eu amava. Foi ela quem me apresentou o autor John Green, e desde então, A culpa é das estrelas se tornou o meu favorito.
Eu realmente carregava esse livro pra todos os lados, não pelo fato de mostra-lo, mas para que sempre que eu tivesse uma folguinha, poder dar uma folheada nele, aliás, eu não iria deixá-lo na estante em meu quarto junto com os outros. Ele teria de ficar sempre junto de mim.
Passei pelas portas e percebi que Raquel já me aguardava com um sorriso no rosto. Seus cabelos estavam presos como sempre em um coque. Os óculos a davam a aparência de mais velha do que o normal.  
Confesso que eu sempre fui dessas que andava só por causa de livros. Mamãe me incentivou bastante desde pequena, ela era quem me dava os livros nos dias festivos e desde então, minha estante se tornou cada vez maior.
O mais interessante na biblioteca, era que havia uma cafeteria do lado, então, podíamos pegar o café e simplesmente sentarmos na biblioteca apreciando os livros. Apesar de que, mais cedo ou mais tarde, aquela ideia não seria permitida, pois poderiam sujar os livros. Imagine só.
Então, eu tinha um espaço reservado na biblioteca. Eu amava mesmo era o andar de cima. Lá, perto da janela, dava pra ver praticamente a praça principal inteira. Eram crianças correndo pra lá e pra cá e carros nas ruas. Ali, havia um pouco de verde e de pessoas conversando, o único lugar da cidade, onde presenciei as pessoas se comunicando.
Eu pegava os livros, mesmo que os trazendo de casa, e sentava de modo que se eu elevasse os olhos, veria as pessoas lá em baixo.
- Posso subir Raquel?
- Claro Catarine! Mas há alguém lá em cima também.
- Ah tudo bem. Obrigada.
Estranhei somente o fato de haver alguém no segundo andar da biblioteca. Lá havia somente os livros menos usados e mais velhos, por isso a maioria das pessoas que eram os jovens da cidade ficava na parte de baixo. Realmente, acho que eles tinham preguiça de subir escadas, transformando o lugar em quase nunca habitado. Mesmo assim, a sala era praticamente enorme, com espaço suficiente para que a outra pessoa sequer encostasse, no meu maravilhoso lugar. 
Subi as escadas que pareciam ser de uma madeira meio avermelhada e envernizada, que Raquel fazia questão de encerar cuidadosamente com algum produto que a deixava brilhante e cheirosa.
Cheguei ao andar dos livros velhos, não avistei ninguém ali, e por sorte, muito menos no meu lugar reservado para olhar as pessoas.
Sentei, coloquei a mochila na cadeira ao lado. Peguei meu livro dos Jogos Vorazes e o A culpa é das estrelas, que já tinha lido mais uma dezena de vezes, mas mesmo assim, comecei a folheá-lo, mas antes, dei aquele cheiro que só quem é leitor verdadeiro e bibliomaníaco, vai saber qual a sensação. Aquilo era mania. Eu amava cheiro de livros, e sempre quando abria um, seja novo ou velho, cheirava-o.
Foi ai, enquanto eu fazia esse ritual de cheira-livros, que alguém estranho se aproximou, e realmente, por ser pega cheirando livros como viciado cheirando drogas, me deixou envergonhada.
- Oi.
Ergui os olhos e vi um garoto de mais ou menos uns 18 anos. Ele possuía o cabelo castanho claro, quase na cor de mel e os olhos negros. Havia algum brilho naquele olhar. Mas sim, eu não queria ter que olhar para ele por mais alguns instantes.
- Oi.
- Será que posso sentar por aqui? Gosto de ficar perto da janela.
- Claro.
Arredei a cadeira. Ele se sentou bem na minha frente e pegou um livro azul na mochila. Tive a sensação de que algumas vezes ele olhava para mim, mas como eu estava tentando ser concentrada no livro, eu não percebi muito, talvez fosse só imaginação. Tentei mesmo, era saber o nome do livro que ele estava lendo, mas desisti, porque teria que levantar os olhos e o encarar, caso ele realmente estivesse olhando para mim. Eu não saberia como lidar com isso.
- Nunca se apaixone pelos personagens.
Sabia que ele estava se referindo ao livro, mas mesmo assim não consegui entender o que ele dizia. Assim, levantei a cabeça, e ele estava com um sorriso enorme no rosto. Sorriso branco, como um garoto que acabou de fazer travessuras. Quando o olhei, ele pareceu perceber que eu não tinha entendido o que ele disse.
- John Green mostra que não devemos nunca nos apaixonar pelos personagens. Não adianta dizer que vai ficar tudo bem com ele, porque não vai.
Fiz que sim com a cabeça e ele continuou:
- Já leu O Teorema Katherine?
Fiz que não.
- Você é engraçada. Tome, garanto que vai gostar.
Ele retirou de sua mochila um livro de capa branca e me entregou. Fiquei assustada com isso. E com certeza fiz uma careta bem engraçada.
- Que isso?
- Estou te emprestando.
- Mas eu nem te conheço.
- Oras. E desde quando preciso conhecer para emprestar um pouco de cultura e de gostos? Somos leitores, você já deveria saber que somos solidários.
- Tá bem, mas...
- Mas?
Ele fez uma cara engraçada e sorriu bonito de novo.
- Mas como vou te devolver?
- Simples. – Ele pegou um lápis e anotou algo no livro. – Me mande uma mensagem ou ligue quando terminar.
- Tá...
Eu segurava o livro na mão. Acho que devo ter ficado novamente com a minha cara feia sem entender nada. Ele se levantou, pegou suas coisas e simplesmente desceu as escadas, não dizendo mais nada, deixando apenas a lembrança daquele sorriso de garoto no rosto. E o pior, é que aquele sorriso, não saia da minha cabeça.
Foi só depois de algum tempo parada, vegetando, que eu desci as escadas correndo e tentei encontrar o garoto do livro, mas infelizmente, como a cidade era grande demais, não consegui encontra-lo. Agora, outras pessoas já haviam tomado conta da calçada e da praça.
Liguei para mamãe e ela já estava por perto. Fui calada, com ela falando de como foi o seu dia e eu fingindo escutar. Nesse dia, nem mesmo ouvimos as músicas de “volta para casa”.
Enquanto mamãe estacionava, peguei o elevador e subi direto, sem nem mesmo conversar com Jony. Abri a porta e fui para o quarto, tirando o livro da mochila e olhando para a anotação com lápis.
Só depois, quando fui anotar o número do dono do livro no celular é que percebi que no livro, não havia nomes, só as iniciais.
L. R.

O jeito era ler o livro.

- Geissiane Aguiar

6 comentários

  1. Me lembrou um trecho de A culpa é das estrelas, quando o Gus empresta o livro e anota o número, será que ele fez isso porque o livro estava encima da mesa? Acho que isso daria um belo livro u.u Queria uma foto da praça parece ser bonita ou da biblioteca auhsuah Beijos

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    1. Livro? Quem sabe Vanessa ... Vou procurar te mandar a foto da biblioteca/praça mesmo ♥

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  2. adoro super seus textos, você escreve super bem
    e tão gostoso ler eles *-*

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  3. Ai ameeei <3
    Que lindo!
    Alguém pode aparecer e fazer isso pra mim, eu aceito haha
    Beijos <3

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    1. Eu também estou aceitando declarações e livros hehe ♥

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