Quando ele se foi


Eu chorei feito criança. Passei a noite chorando pendurada na janela olhando as estrelas, tentando esquecer o que eu queria lembrar pra sempre. Eu desabei no chão.
Eu só me dei conta quando o telefone parou de tocar.
O dia amanheceu e não havia nenhuma mensagem dele. O café esfriou e ninguém me disse "bom dia".
Eu só comecei a perceber, quando os lugares onde ele costumava estar, estavam vazios. O banco da pracinha, o morro da minha casa, a porta da casa dele. Não ele não estava em mais nenhum lugar, ele não viria mais me esperar. Pensei em bater quando cruzei a sua casa, mas aquilo já teria sido demais pra mim. A música tocava lentamente em meus ouvidos. A música que ouvíamos juntos. 
Os olhos encheram-se d'água. Ardiam. Queimavam. Não mais que meu coração. Eu estava com um nó na garganta, mas precisava superar. Precisava acordar. Precisava viver, mas acima de tudo, eu precisava aprender o que era melhor pra mim, mais cedo ou mais tarde, algo viria a acontecer. 
Ele não iria voltar. A porta nunca iria se abrir novamente para ele. Ele era autor da própria história, que não escreveríamos juntos, como os diversos juramentos que ele fez.
Não teríamos três filhos com nomes de personagens engraçados e um apartamento no centro da cidade e com vista pra praça central. Não viajaríamos para uma cidade longe, não  estaria ao meu lado no dia mais importante da minha vida. 
Nunca me ajudaria a montar meu próprio negócio, a lançar meu próximo livro. O livro que possuía mais dele do que de mim. O livro que eu o dediquei a ele, como todo o meu amor. Talvez, ele nunca mais leria nada que eu escrevesse.
Não sei se foi culpa minha. Nem dele. Não sei de quem é a culpa. Mas o aperto no coração continua o mesmo. Enorme, como um buraco negro que não tem fim. As borboletas no estômago viraram nó na garganta e aperto no peito. O sorriso no rosto foi trocado por lágrimas escondidas.
Quebrei os porta-retratos que enfeitavam meu quarto. Rasguei as fotos. Liguei pros meus amigos. Pensei em ligar pra você.
Meus amigos tentaram me ajudar. Animar.
Eu havia gritado para as minhas amigas que ainda era ele. Que nenhum daqueles caras a nossa volta me interessava. Que eu tentei negar, tentei esquecer, mas de nada adiantou. Eu só não aguentava mais fingir, só não aguentava mais ficar por aí sorrindo, como se fosse a coisa mais fácil do mundo viver sem ele. 


- Geissiane Aguiar

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