Sem aspas e sem sentido



Era domingo e eu sabia exatamente onde eu estava. Aliás, onde meu corpo estava. Há muito tempo meu coração e meu cérebro não andam mais junto com meu corpo. O tédio na maioria das vezes me domina. Se viesse ao caso o jeito seria jogar um pouco de qualquer jogo que me distraísse e não me fizesse pensar em você. Ah que idiotice – não paro de pensar um segundo – o que um jogo iria adiantar? Nem Diablo, nem WoW. Era nessas horas que eu desejaria pegar o primeiro ônibus e sair sem rumo por ai. Quem sabe alguém sentiria minha falta? BR 116 quem sabe?
            Droga. Você ai na bondade e eu aqui. Isso é maldade sabia? Eu tento me desligar de você, mas 1.584.584.584.693.332 milhões de coisas me fazem te lembrar. Já não está mais que na hora de dar um basta nisso não? Aaargh! Nem meu violão consegue te tirar da minha cabeça. Isso é um desafio né? Que tal ler um livro? Lembrei que poderia ter algum livro legal que pudesse me ajudar. Meu melhor amigo me emprestou vários no último final de semana. Um livro que não falasse de amor. Um homem de sorte? Melhor não. Diário de uma paixão? Nem pensar. A última música? Deus. Será que não haveria um livro nessa casa que não falasse de amor? Vou pra internet. Coisa melhor? Quem sabe dar uma olhadinha na vida social das pessoas? É bom ficar sabendo da vida dos outros né? Pra minha surpresa quinze minutos depois e você online. Isso me irrita. Eu te esperando e você nem ai. Fico olhando de cinco em cinco segundos, abrindo e fechando as abas só pra saber se você vai me chamar.
            Você nunca chama. Acho que estou servindo como sua ajudante, e você só me ocupa aos dias da semana. Final de semana estou livre, né? Eu gostaria de estar livre o tempo todo. Levanto, vou ate a geladeira com minhas meias brancas no chão. Minha mãe me mataria se soubesse. Mas ela está a quilômetros de distância agora. Abro a porta e vejo que não são nem seis horas direito. Eu poderia me arrumar, colocar uma roupa nova e sair um pouco pra poder me distrair. Mas com quem? Amigos? – ironicamente - Claro. Tenho vários. Edredom, cama, travesseiro. São os melhores. Quem sabe ver uma série? O único que passa é o Criminal Minds. Ótimo. Assim eles me assustam e meu cérebro e o coração param de uma vez. Até que não seria má ideia. Ainda mais nesse friozinho. Eu e meus melhores amigos vendo um filme junto. Foi o que aconteceu.
            As seis em ponto praticamente, eu já estaria com meu velho pijama azul, que me fazia sentir mais velha, pelo fato de ele ser enorme. Irmãos só chegariam tarde. Vó estava quieta entretida na máquina de costura no quarto. Eu teria bastante tempo para poder assistir a série em paz sem precisar pensar em alguém – em certo alguém.
            Por algum tempo eu sei que consigo ficar sem pensar em você. Mas tem horas que você não tá nem ai pra mim. A série estava até mesmo boa. Eu ficava imaginando como pode ter pessoas psicopatas assim. Um rapaz cujo irmão foi morto por um tornado. Daí ele começa a perseguir as pessoas que tem algo em comum com seu irmão, arrancando a parte do corpo a que desejava. Era sangue pra todo lado. Mas ai na hora H, bem no final, o telefone toca.
            When-I-look-into-your-eyes. I-can-see-a-love-restrained… Quando olho nos seus olhos, posso ver um amor reprimido. Poxa Guns? Logo a minha música favorita tinha que ter essa tradução?
            Aaargh. Esticar pra pegar o celular. Nisso eu sou mestre. Consegui pega-lo bem na hora que parou de tocar. Nada mais nada menos que você. Por quê? Já não chega abalar minha cabeça e confundir meu coração? O que queria comigo? Queria me alugar de novo como sua ajudante até no domingo? Eu não teria dado à mínima. Mas não sou de ferro. Retornar ou não? Toda ligação deve ser atendida. Havia escrito isso há algumas semanas e postado no blog. Droga. Pega pelas minhas próprias frases. “Não. Não irei ligar. Vou esperar me ligar novamente” – pensei. Pena que o coração custou para poder entender.
            18h18min. Odeio horas iguais. Apesar de não acreditar muito, meu coração parece insistir em acreditar em várias coisas sem sentido algum. Tudo isso por sua causa.
            Dai a pouco você me liga. De novo. Eu já estava esperando, porém fingia que tinha mais coisas importantes a fazer. Eu nunca sei o que você vai dizer.
- Alôôô? – disse você com seu jeito estranho, prolongando o “ô”.
- Ah. – foi à única coisa que consegui responder.
- Estava dormindo já? – Não sei por que você insistiu em perguntar. Não sabe que durmo tarde porque eu fico pensando em você? Ah é. Não sabe.
- Não. Estava passando uns seriados legais na TV.
- Hum. Tá muito ocupada agora? – Pra você estou. Estou muito mais muito ocupada mesmo.
- Não, não pode falar.
- É sobre a Danie.
Ah, legal. Compartilha comigo esse momento de desabafo de uma briguinha que teve com namoradinha. É só pra isso que eu sirvo mesmo né?
- O que houve?
- Ela não me deixa pensar. – Pensar em que meu Deus? Na morte da bezerra, ou melhor, da Anne?
- Pensar?
- É. As coisas andam meio estranhas comigo ultimamente.
            Estranhas com você? Você tem me tirado do sério todas as noites, me fazendo perder o sono, não sabendo de nada. Venho sofrendo escondida há semanas e as coisas não estão bem com você? Faça um favor né?
- É. Ela está me fazendo pensar de outra forma. Ela tem umas manias estranhas. Anda me estressando fácil. Eu ando tentando segurar, mas ai eu fico nervoso. Hoje a primeira pessoa que lembrei foi em você. Espero não ter te incomodado.
- Claro que não. Só quero que você tenha paciência.
- Você sempre pede isso.
- Porque será né Alle? – do outro lado ouvi umas risadas um pouco abafadas. Depois houve um silêncio. – Está tudo bem?
- Claro. Você me trás paz. – “Você me trás paz.” Repeti mentalmente. – Obrigado por tudo Anne.
- Só faço o que eu posso Alle.
- Mesmo assim.
- Eu sei que todos me amam. – Tentei descontrair.
- Eu te aturo porque preciso de você. – Com certeza precisava. Eu o dava informações de tudo o que estava acontecendo, além de ajudá-lo, já que ele mal conhecia as outras pessoas que estaria lidando. Eu era o “pau-pra-toda-obra”. Entre risos cheios de ironia, retruquei.
- O mesmo pra você.
- Bom, vou deixar você dormir. Deve estar um pouco cansada. – Depois dessa conversa eu sabia que não iria conseguir dormir. Iria ficar pensando nas coisas que poderia ter dito. Nas coisas que poderia ter expressado e inclusive nas coisas em que disse.
- Só um pouco. – Não precisava de porquês. Eu iria dormir ou ficar vendo mais séries na televisão. O que daria no mesmo, pois no final eu sempre ficaria pensando em você.
- Então até amanhã. – Legal. Amanhã teria que encarar meus medos mais uma vez.
- Até.
- Bons sonhos. – Como se eu fosse conseguir dormir.
- Pra você também.
- Vou ter.
Não precisava dizer mais nada. Você acabou com minha noite. Já poderia saber que iria passar o dia inteiro esperando as horas pra poder te ver amanhã. Que idiota. Nem conseguir dormir direito, por causa de você. Pra no dia seguinte ser quase o pior de todos os dias que pude te ver. Eu me sinto horrível por isso. Tentei ir dormir, mas desisti porque o Harlem Shake na cama continuava. Pensei em ir até a varanda e ficar olhando as estrelas. Mas o que os outros pensariam? Já era tarde da noite e uma pessoa na varanda? No outro dia também teria que dormir. Já estava realmente na hora de dormir. Amanhã teria um longo dia pela frente.

Tirei os óculos que já estão fracos e me joguei na cama. Pensei que pudesse ler algo, algum livro legal até que o sono me pegasse. Parece que a capa página, a cada capítulo eu me lembrava mais de você. Música. Era tudo que eu precisava. Let's-be-more. Than-just-friends… Tenho que mudar a minha playlist. Acho que ela esta romântica e depressiva demais. And-I-will-say-one-day-that-I-do... 

                                                                                                    – Geissiane Aparecida de Aguiar – Sk

4 comentários

  1. Sei bem como é isso ,nesses dias procuro ouvir músicas mais agitadas e o melhor é bloquear a tal pessoa .
    Seu blog é uma graça ,vou seguir .
    http://poemadecadadia.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Laila, obrigada e boa dica essa sua rs
      Seguindo de volta e abraços! ♥

      Excluir
  2. Adorei o texto e o blog! Me identifiquei! Só para frisar, gostei da parte do texto em que você disse ir para a varanda olhar o céu, eu sempre faço isso quando perco o sono ou estou inquieta a noite hehe bjs
    http://canecaquente.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Rayanna (gostei do nome hihi) Também sou mestre em fazer isso. Principalmente quando recebo ligações. Obrigada por comentar. Abraços ♥

      Excluir

Topo