O colar


Quando eu tinha quinze anos de idade ganhei um colar. Não um colar qualquer, mas um colar de pérolas brancas. Poderia não ter nenhum significado, mas tinha um especial. Era presente de dezoito anos de meu avô a ela, que ficou guardado durante quase dez anos em uma gaveta de um criado mudo a cabeceira da cama.
Pelo bastante que a conheço, deve ter o colocado algumas vezes no pescoço. Sem sair. Sem se vestir para alguma festa. Só para se olhar no espelho, e ter a oportunidade de o usar, quando a hora chegasse.
E a hora chegou.
No dia do seu casamento, ela estava tão deslumbrante quanto as estrelas do céu. Eu posso sentir com meu coração. Mesmo não estando presente, eu me fiz presente e fruto de todo aquele gesto de amor. O colar, fazia parte de seu dia especial.
Três filhos vieram ao mundo. Nosso avô veio a falecer algum tempo depois, mas o colar continuava guardado no fundo da gaveta.
Nós crescemos. Nos mudamos. Ficamos mais distantes. E por certas noites tive certeza de que ela pegou o colar para observá-lo. Mas certo dia ela resolveu que seria a hora de passa-lo para frente e então, decidiu me dar como presente.
Eu o usei em vários momentos da minha vida, e por isso, ele acabou quebrando. Meu pai, o concertou-o o hoje ele está novinho e folha (Se é que você, se interessa a saber).
As vezes paro para imaginar quantos calos causados pelo cabo de uma enxada e o sol quente na testa pagaram esse colar. As mãos de um pobre trabalhador que dá tudo o que tem para alegrar seus filhos. É a melhor sensação da minha vida saber que graças a isso eu sou o que sou.
Eu o pego nas mãos, coloco no pescoço, olho no espelho e fico pensando num futuro distante, mas nem tanto assim. Com esperança de que chegará o dia em que finalmente, poderei o passar para minha menina, e assim, ela para meus netos, bisnetos, tataranetos... até o fim dos meus dias.

E das minhas gerações.

- Só Shoski

2 comentários

  1. Oi Geissiane! Que texto bonito <3 Me fez pensar em alguns valores. Volto mais vezes para acompanhar as postagens. Um ótimo dia!
    [Resenha dupla #04] Persépolis – Marjane Satrani

    ResponderExcluir
  2. Que graça seu blog!
    Adorei!
    www.memoriasdeumaguerreira.blogspot.com

    ResponderExcluir

Topo