Cartas entre jovens escritores - Amor, roda-gigante e sonhos.

Hey Kennedy,

Esses dias eu sonhei com ele. Engraçado. Dizem que levamos 7 minutos para dormir, e que nos primeiros seis minutos e cinquenta e nove segundo, nossa cabeça automaticamente reproduz todos e cada um dos momentos vividos ao longo do dia. E que no último segundo, aparece a pessoa que tenha te feito feliz naquele dia. Finalmente, o cérebro permanece com o mais importante, com o que mais você tenha gostado e o transmite em forma de filme, um filme chamado "sonhos". Daí que eu me pergunto: onde ele me fez feliz? Porque não paro de pensar nele?

Uma pergunta que eu sempre fiz para todas as outras pessoas, fica martelando no meu pensamento. Não sei se sou feliz, na verdade acho que nunca fui. Talvez eu fingisse demais como todas as outras pessoas. Acho que estou me esforçando demais, tentando escrever uma história em que o mocinho e a personagem principal se apaixonam e o final é feliz. O final que eu desejo pra mim. Eu sonho e escrevo tudo em um caderno, que fica do lado da minha cama com uma caneta qualquer. Eu acordo às vezes no meio desses sonhos e escrevo, a história que era pra ser a minha, ou a nossa se ele desejasse. Mas é que nessa história eu tenho mais sofrido do que tudo. Parece que as partes ruins de toda a história nunca chega ao fim.

Sério. Eu parei um pouco pra pensar em tudo o que aconteceu com a gente. Nas coisas boas e ruins. Às vezes acho que foi sem sentido, outras, que faz todo o sentido do mundo. Mas uma coisa que eu não entendo é porque ficar nessa obsessão por uma pessoa que só te fez sofrer. Eu escrevo coisas, que nem eu mesmo entendo. E nem sei se você vai me entender.

O pior de tudo é quando me pego olhando pro nada. Olhando as estrelas de que ele tanto falava e gostava de olhar. Argh. Tudo me faz lembra-lo. Nem mesmo aquela festa super-animada com os meus amigos pode mudar. Sempre há um sorriso, uma pessoa, ou uma coisa qualquer que eu insisto em pensar nele. In-sis-tir. Talvez fosse o que eu deveria parar de fazer. O problema é que tantas vezes o coração fala mais alto e acabamos chegando à um ponto crítico.

Eu tento, me esforço, mas parece que fico em uma roda-gigante que está lá em cima e de repente despenca. Fazer o que é assim que nos apaixonamos: como se fosse um sonho que estivéssemos fazendo algo e de repente despencamos. Gradativamente e sem saber de tudo.

Bem, tire os minutinhos longe de sua isomeria óptica e responda o meu texto, aliás, você é o único amigo que consigo confiar. Mas mesmo assim, se não puder, eu fico feliz, só de saber, que do outro lado do Brasil, existe alguém que se importa comigo e com meus problemas sentimentais. 

- Geissiane Aparecida de Aguiar, Cartas entre jovens escritores.