Quem nunca namorou de longe, não vai conseguir entender
metade do que eu vou escrever nessa crônica, porque só quem já passou por essa
experiência sabe o quanto ela é difícil. Mesmo assim vou tentar explicar, para
todas as vezes que vocês se depararem com alguém reclamando da ausência do
namorado, não começarem com as manjadas frases que não fazem nada pela pessoa
solitária: “Ah, mas pelo menos quando vocês se encontram tudo é festa, nem tem
tempo pra brigar.” Ou: “O tempo está passando rapidinho, logo o próximo feriado
chega.” Ou ainda: “É bom que no período que ele está longe você pode curtir com
os amigos.”
Só quem namora à distância
sabe o quanto essas frases são mentirosas. O tempo não está passando rapidinho,
pode até passar pra quem está com o namorado do lado, podendo ir com ele ao
cinema em plena quarta-feira, mas pra quem conta cada dia para o próximo
encontro, o tempo custa a passar. Chega o Natal, mas não chega o fim-de-semana.
E quando finalmente ele chega, aí sim, o tempo voa. E lá vamos nós, voltar para
a contagem regressiva até a próxima vez.
Quem namora (não só à
distância) sabe que sair com os amigos quando se tem namorado não é nem de
longe tão divertido quanto sair com os amigos na condição de solteira.
Primeiro, porque os amigos se dividem em dois grupos: solteiros e casais. Os
solteiros geralmente saem para paquerar. E os casais não querem saber de vela
(a não ser que sejam outros casais). Ou seja: quem namora e não tem o namorado
por perto é um pária da sociedade, um excluído. Eu, por exemplo, não gosto de
segurar vela. E nem acho graça (e nem acho lícito) paquerar outras pessoas.
Acabo então, na maioria das vezes, indo só ao cinema, onde não têm apenas
casais e a paquera não é obrigatória, mas isso acaba agravando a saudade,
porque cinema é o lugar onde namorado mais faz falta, seja pra dividir a
pipoca, os beijos ou as opiniões depois que o filme terminar.
Só quem tem que namorar
pelo telefone sabe que essa história de ter menos brigas por causa da distância
é pura ilusão de quem nunca passou por essa situação. A quilometragem que
separa um casal é diretamente proporcional à quantidade de ciúme. Você, toda
bem intencionada, confia no seu namorado, acredita que ele está lá tomando um
choppinho com os amigos e sentindo tanto a sua falta quando você está dele. Até
que chega a sua amiga e te diz que ele, com certeza, está na gandaia, que é pra
você abrir o olho. Vem o cara que te paquera no barzinho (naquela tentativa que
você fez de sair com a amiga solteira) e te pergunta – quando você diz pra ele
cair fora porque é comprometida – se você sabe o que o seu namorado está
fazendo naquele minuto. Chega o seu amigo que já passou por essa situação e
manda você fazer marcação cerrada, porque homem é tudo igual e quando bebe
esquece do estado-civil. É difícil, depois desse bombardeio, a confiança ficar
intacta, ainda mais se você telefona pra provar que todo mundo está enganado e
o celular dele cai na caixa-postal... Acabamos gastando o precioso tempo dos
encontros discutindo a relação enquanto poderíamos estar repondo o tempo
perdido.
Quem passa a maioria dos
dias longe do namorado sabe como é chata a condição de se ter que ir embora bem
na melhor parte. Porque é assim: depois de separados por um período, não é a
mesma coisa se encontrar como se vocês tivessem se visto na noite anterior. O
reconhecimento demanda um tempo. Você estranha a pessoa um pouco. Vários
pensamentos vêm à cabeça: “Que blusa nova é essa?”, “Da última vez ele não
estava de cavanhaque.”, “Quem são esses amigos que eu não conheço?”, “Que gíria
diferente é essa que ele aprendeu a usar?” Coisinhas bobas, que quem convive no
dia-a-dia não tem que passar, pois sabe de quem ele pegou a gíria, acompanhou o
crescimento do cavanhaque, ajudou ele a comprar a blusa, viu ele fazer a nova amizade.
Você demora um tempinho, mas acaba se acostumando e até gostando das novidades.
Então, bem nesse momento, você olha o calendário e vê que já vai embora amanhã.
No próximo encontro outras novidades terão tomado lugar dessas que você já
conhece e lá vai você passar por outra adaptação.
Só quem namora à distância
sabe o quanto é difícil uma despedida. Ele pode viajar por apenas três dias. Se
vocês estivessem na mesma cidade, poderia ser até que nem se encontrassem nesse
período, mas pelo menos vocês tinham a certeza de estar ali, a poucos minutos
de distância. Mas basta que ele feche a mala que o seu coração se fecha
também... é que os momentos passados juntos são tão valiosos que dá medo se
separar. Medo do avião, do ônibus, da estrada, do destino.
Quem passa a maioria dos
dias sem o namorado perto sabe como é fria a cama na segunda-feira posterior a
um fim de semana passado juntos. Dá uma tristeza sem fim olhar para o lado e
deparar com aquele espaço imenso que ele deixou. Só resta abraçar o bicho de pelúcia
que ele te deu e sonhar com o próximo encontro, torcendo para que ele venha
logo e dure mais.
Só quem namora assim, de
longe, sabe que mesmo com todas essas dificuldades, o amor compensa. Porque
quando o namorado chega, o mundo fica mais colorido. Os poucos momentos são tão
intensos que se estocam na memória, nos abastecendo até a próxima dose. E só
quem namora desse jeito sabe o quanto é bom ter a esperança de que um dia
aquela distância encurtará de vez e os encontros não terão prazo, necessidade e
nem vontade de acabar.
- Paula Pimenta, autora da
série, Fazendo meu Filme
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